Friday, December 28, 2007

Feliz Ano Novo!


Esta foto era para cá estar mais cedo, mas já estamos há uma semana em Sligo e a internet tem estado com problemas. E antes disso, bem, atravessei uma fase de preguicite intelectual. Espero que tenham tido um óptimo Natal (como era de esperar, o Daniel gostou mais do papel de embrulho do que dos presentes) e que o ano 2008 traga o que cada um de vós mais deseja (no nosso caso, uma casa nova). Até para o ano!

Friday, December 07, 2007

5 cêntimos de bom senso



Ninguém gosta de taxas. Parece que a nossa carteira se encolhe só de ouvirmos a palavra. No fundo, pensamos sempre que o Estado nos está a roubar de uma forma constitucional, em vez de premiar o cidadão exemplar que é cada um de nós. Nós até já fazemos reciclagem e tudo, ainda querem mais?

Sim, é preciso mais se queremos mudar o rumo do nosso planeta. Nos últimos 20 anos, o número de desastres naturais relacionados com as condições climatéricas quadruplicou (http://news.bbc.co.uk/1/hi/in_depth/7111623.stm ). Nem era preciso citar dados de um estudo científico, basta estarmos a par das notícias para vermos cada vez mais e maiores catástrofes (o Tsunami de 2004, o furacão Catrina de 2005, a lista negra é assustadora). E agora estão vocês a pensar, "o que é que lhe deu para estar com este discurso apocalíptico"? E digo eu, "Acabei de ver An inconvenient Truth de Al Gore (que, aliás, recomendo vivamente)." É, acima de tudo, uma verdade urgente. Já todos sabemos do efeito estufa. Já todos sabemos que a temperatura no globo está a subir. Já todos sabemos que os glaciares se estão a derreter. Mas quando nos mostram os números, as imagens, as consequências é impossível ficar indiferente.

"Pronto", dizem vocês, "ela não está boa. Então é o meu saquinho de plástico gratuito que está a destruir o planeta?" E digo eu, "É!" O saquinho, e todos aqueles hábitos irrefletidos e comodistas do dia-a-dia: deixar as luzes ligadas em todas as divisões porque sim, não usar lâmpadas económicas porque são mais caras (vejam só o contrasenso!), ir de carro sozinho para o trabalho quando há bons transportes públicos ou posso dar boleia a um colega... Enfim, um sem número de gestos que mantemos que estão a comprometer o meio-ambiente. E a triste verdade é que, apesar de ser tão fácil mudar o nosso comportamento, poucos se dão ao trabalho de o fazer. Por isso, é obrigação do Estado educar os cidadãos. Quando julgava que finalmente o governo de Sócrates tinha tido um boa ideia, eis que volta tudo atrás e se dá o dito por não dito...

Wednesday, December 05, 2007

Caça ao tesouro

Lá em casa sempre houve mais livros do que estantes: quanto mais prateleiras se punham, mais volumes apareciam... Assim, não é de estranhar que eu goste tanto de bibliotecas - têm algo de familiar. É certo que a organização não é idêntica (a minha mãe bem tentava criar diferentes secções, mas com tanta gente a mexer nos livros era tarefa sisífica), contudo respira-se o mesmo cheiro a papel e a histórias.

Infelizmente, a biblioteca em Ennis fica relativamente longe da nossa casa e durante o início da minha licença ia com pouca frequência. Agora, porém, já apanhei o vício e ainda que me arrisque a apanhar uma bátega de água não deixo de ir. Quando finalmente lá chego, sinto-me como uma criança numa loja de doces: a escolha é tanta que não sei por onde começar. Não são "só" livros: há jornais, CDs, DVDs, exposições... Os meus olhos famintos percorrem os corredores, enquanto o Daniel se diverte a fitar as lombadas coloridas. O tempo é escasso - as lombadas não são assim tão giras e o pequenote começa a refilar se a mamã não se decide. A caça ao tesouro termina abruptamente, mas os troféus acumulados são suficientes para umas largas horas de lazer.

Monday, December 03, 2007

Miau miau

Quer o Bruce, quer eu gostamos mais de cães do que de gatos, ele porque é alérgico a felinos, eu por causa de uma história macabra de família em que um tio-bisavô acaba morto por um gato assanhado (e como se isso não bastasse, já vivi num apartamento em Lisboa com uma gata destrambelhada que arranhava quem a acariciasse). O Daniel parece seguir os nossos passos, visto que não tem ligado ao gato de um casal nosso amigo, mas ficou excitadíssimo quando viu o cão de um dos nossos vizinhos. Quis à força pôr-se de pé e "fazer festinhas" (isto é, arrancar pêlos) ao dito cujo que, partilhando do estoicismo canino, continuou a abanar a cauda em vez de fugir a sete patas.


Hoje, porém, não resisti ao Puss-in-boots look* de um gatinho que ultimamente tem andado a miar de porta em porta. Abri a janela e deitei um pedaço de bolo para ver se Sua Excelência se dignava a comer (vejo sempre estes felinos como criaturas simultaneamente altivas e picuinhas). E eis que nem sobram migalhas, tão esfomeado estava! Pronto, derreteu-se-me o coração, e deixei-lhe uma malga de leite à porta. Assim que terminou a sua refeição, saltou para o parapeito exterior da janela já fechada, e lá ficou deitado, à espera de ser contemplado pela sua benfeitora. A verdade é que o Daniel achou imensa piada à mudança de cenário (ele passa imenso tempo a espreitar a rua, e está sempre tudo na mesma...). Maior foi o meu espanto quando, meia hora depois, ao sair para o nosso passeio habitual, o gato fez questão de nos acompanhar. Confesso, estamos os dois rendidos ao "miau-miau"!

* olhinhos de gato das botas (Shrek 2)

PS - Li agora no Público online que em Tóquio há cafés onde os clientes se podem distrair a mimar gatos. Às tantas, a moda ainda pega...

Monday, November 26, 2007

Os melhores filhos do mundo

A maioria das mães vive na ilusão de que os seus filhos são os mais espertos, os mais bonitos, os mais simpáticos. Se o primeiro dentinho nasce mais cedo do que a média, é precoce e, por isso, inteligente. Se começa a gatinhar antes que o filho da vizinha, "vai longe". Se sorri, é lindo; se é introvertido, ergo pensador... Pode até nem fazer nada, mas é sempre o melhor, mesmo no nada que faz.

Ora enquanto algumas mães acalentam estes pensamentos em segredo, outras há que não hesitam em partilhá-los com a família, amigos, professores e catequistas dos seus rebentos, o homem do talho, a senhora da mercearia, etc, etc... Agora adivinhem lá em que grupo se inclui a minha, que nas últimas semanas anda em campanha bloguista: "Leiam o blogue da Luísa!". Como há já uns anos que não corre a minha veia poética (costumava escrever "versos" em criança e durante a maior parte da minha adolescência e vida universitária), esgotaram-se os troféus para mostrar a conhecidos e afins. Contudo, o facto de eu ter começado a publicar textos na internet deu-lhe a oportunidade perfeita para alargar a sua divulgação a meio mundo...

Mãe, muito obrigada por acreditares cegamente nas minhas capacidades, me teres ajudado a ganhar auto-estima e a crescer com optimismo. Pai, obrigada pelo teu encorajamento mais comedido, que permitiu que o meu ego não explodisse, depois da pirotecnia panegírica materna.

PS- Redescobri há pouco o meu primeiro poema em Inglês (mais um dos frutos de ERASMUS) que anda à volta do tema da humildade. As minhas desculpas para quem não está à vontade com a língua inglesa, mas traduzir este poema iria despi-lo de sentido. Bom proveito!

.

i feel like writing myself
as i.
What's the point in being big?
If you're too big,
no one will be able
to embrace you entirely.
If you're "I"
there's no space left
for others to complete you.
"I" is a pedestal
with no statue on top.
i want to be i
even less,
just a dot
.
See,
This is me:
a freckle of God.

Friday, November 23, 2007

Ama...seca

Estava tudo a postos para eu regressar ao trabalho na passada segunda-feira. Infelizmente, os imprevistos não faziam parte do meu plano: à última da hora a ama informou-nos que afinal não podia tratar do Daniel porque - coisa nunca vista - ele chorava. Depois disto, quem queria chorar era eu...

Convencida de que tudo acontece por uma razão, telefonei ao meu chefe e pedi para alargar a licença sem vencimento até ao fim do ano, o que me foi concedido de boa vontade. Entretanto, comecei de novo à procura de ama, uma vez que há poucas creches full-time nesta zona (a maioria funciona só 2/3h de manhã ou à tarde). Este ano houve um baby boom na Irlanda e confesso que tinha medo de não encontrar ninguém disponível... Felizmente, estava enganada. Para minha grande surpresa e alívio, descobri várias. Espero desta vez ter acertado na escolha.

Agora que já começa a assentar a poeira, tenho que admitir este foi um mal que veio por bem. Se não, vejamos:

1. Apesar da minha costela feminista o querer ocultar, a verdade é que estou a gostar imenso de ser temporariamente a "stay-at-home-mum";
2. O Daniel, desde que deixou de ir à ama, esmera-se em sorrisos (acho que a auto-estima dele não ficou lá muito abalada com a rejeição);
3. A colega que me está a substituir iria ficar desempregada durante o mês de Dezembro, e desta forma acabou por receber uma prenda de Natal antecipada;
4. A nova ama fica mais perto do nosso trabalho e, como tem três filhos (a mais pequenina com apenas dois anos), ainda se lembra que os bebés choram.

E esta, hein?

Monday, November 12, 2007

Nódoas...

A vida ganhou mais cor desde que o Daniel começou a comer papa e sopa: quer ele, quer eu, quer o Bruce, envergamos agora as nossas roupas com nódoas de orgulho. Não há avental, babete ou fraldinha que controle a criatividade sujadora do nosso pequenino. E eu que julgava - antes dele nascer - que a lavagem da roupa cá em casa só ia aumentar 50% (afinal era só mais uma pessoa, e ainda por cima, em ponto pequeno). Como estava enganada! O vestuário do Daniel ainda é o menos, o nosso é que está constantemente a ser bombardeado com manchas de todo o tamanho e feitio, e nos lugares mais caricatos. A situação tem vindo a deteriorar-se desde que o nosso rebento aprendeu a soprar e decidiu que a colher serve muito bem de flauta...

Sunday, November 11, 2007

À procura de casa

Desde que o Bruce e eu nos casámos, temos vivido numa simpática casa amarela em Ennis, num local muito sossegado. Gostamos muito do nosso senhorio, mas não ao ponto de continuar a pagar-lhe renda ad eternum. Há cerca de um mês, aproveitando o facto de ainda estar de licença,comecei a ver o programa "Location, location, location" que dá imensas pistas para quem quer comprar casa. Aprendi, por exemplo, que os três principais factores a ter em conta são a relação entre o tamanho, a localização e o preço do imóvel.

Quando fomos ver uma casa pela primeira vez, ia munida do meu bloco de notas com uma lista imensa de pormenores a ter em atenção. O edifício tinha sido construído nos anos setenta, mas fora completamente remodelado e ampliado, respirava-se bom gosto em todas as divisões. Era enorme, com muito espaço de arrumação (uma das minhas exigências), boa iluminação, imensas tomadas (sim, é uma das maiores preocupações do Bruce, que anda a coleccionar computadores órfãos), um jardim encantador... Depois de uma avaliação demorada, passou o teste com distinção. O problema era o preço ser um pouco acima do orçamento e o facto de, menos de uma semana depois, já haver um comprador à vista e nós não estarmos ainda preparados para regatear (afinal, era só a primeira que tínhamos visto).

Entretanto já vimos outras três, que ficaram sempre aquém. Ou a cozinha era muito pequena, ou a casa precisava de obras, ou tinha poucas divisões. Por isso continuamos à procura, à pocura...

Monday, November 05, 2007

O Belo Acordado




O Daniel é um amor durante o dia. Ontem aprendeu a soprar e passa agora a maior parte do tempo a tentar assobiar ao espelho. Gosta muito do seu passeio diário, da sua aula de música (a mamã ou o papá tocam para ele) e de saborear - literalmente - os livros (prefere mordê-los a fixar as imagens). É um querido - e já estou a ver o sorriso cúmplice de alguns de vocês que sabem o meu uso particular de "querido"- MAS não dorme à noite! Eis a razão por que esta bloguista não tem escrito. A verdade é que às vezes me sinto tão cansada que até falar exige um esforço sobre-humano (por exemplo, às 4 da manhã, depois de o Daniel ter acordado pela enésima vez, a minha voz soa como um disco vinil com as rotações trocadas, quando me volto para o Bruce: "vvvvvvvvvaaaaaaaaai lááááááá tu por favozzzzzzzzz").

Tuesday, October 30, 2007

Um vaivém especial

Tenho poucas memórias de infância, mas sei que fui feliz. Lembro-me do carinho e paciência que todos tinham para comigo por ser a filha caçula. Lembro-me dos deliciosos bolos e sobremesas de família que agora estou a tentar "recriar" pela minha própria mão. E, finalmente, lembro-me de a casa estar sempre cheia e a mesa sempre posta. Não só éramos uma família numerosa (avó, pais e seis filhos), como tínhamos a porta e o coração sempre abertos. Tios, primos, vizinhos e amigos estavam constantemente a entrar e a sair, entre conversas que se alongavam pelo serão fora. Silêncio, só mesmo durante a noite (e isto se conseguíssemos alhear-nos de um ou outro ressonar...).

Vinte anos e catorze netos depois, os meus pais já se mudaram para um apartamento maior , mas o vaivém continua a aumentar exponencialmente. Por este andar, vão ter de comprar um prédio inteiro... O Bruce, que só tem uma irmã e estava habituado à paz e sossego de Sligo, continua a ficar surpreendido cada vez que vamos a Castelo Branco: "Isto é uma autêntica estação de comboios, com gente a chegar e a partir!".

Wednesday, October 24, 2007

Como imaginar um sorriso

É certo e sabido que são frequentemente as ideias mais simples que chegam mais longe. Em 1993, Dave and Jill Cooke, do País de Gales, iniciaram um programa de envio de presentes e mantimentos para orfanatos na Roménia. Nesse mesmo ano, uma organização cristã, "Samaritan's Purse", apadrinhou o projecto, servindo-se de caixas de sapatos para entregar prendas a crianças na Bósnia. E, como por magia, essas caixas de sapatos, decoradas com papel de embrulho e repletas de bonecos, material escolar e produtos de higiene, tornaram-se autênticos baús de pequenos tesouros. Só no ano passado, sete milhões e meio de crianças necessitadas descobriram o que é receber um presente pelo Natal.
( http://www.breakingnews.ie/ireland/mhmhmheyojmh )

Tenho uma amiga que alguns anos atrás fez trabalho de voluntariado num orfanato na Rússia e, apesar de ter sido já em pleno Verão, os meninos continuavam a falar dos brinquedos que tinham recebido seis meses antes...

Sei que ainda há pouco reclamei por as lojas já transpirarem de decorações natalícias, mas a verdade é que uma operação desta envergadura precisa de se iniciar com bastante tempo de antecedência. Ontem, senti um gozo especial ao preparar uma caixa com prendas para um rapazinho que nunca chegarei a conhecer. Mas fico contente só de imaginar o seu sorriso...

Monday, October 22, 2007

Era uma vez...

Um dos meus planos para a licença de maternidade era escrever histórias para o Daniel. A verdade é que já estou em contagem decrescente para o regresso ao trabalho (falta menos de 1 mês, snif, snif) e ainda não escrevi um parágrafo. Decidi então começar a ler The Complete Fairy Tales dos irmãos Grimm em busca de inspiração.

Confesso que estou a desfrutar imenso desta viagem pela infância, mas fiquei simultaneamente surpreendida por só agora me dar conta da crueldade de alguns destes contos. Apesar de ainda só ter lido 20 (a obra completa inclui 279), encontrei
pais que abandonam os filhos ("Hansel and Gretel", "Rapunzel") ou que decidem assassiná-los ("The twelve brothers", "Faithful Johannes"). São autênticas histórias de terror, e seria de esperar que as criancinhas acordassem a meio da noite com pesadelos. E, no entanto, elas parecem ficar em paz porque, no fim, "os bons" ficam bem. Estranho, não é?

Thursday, October 18, 2007

Chuack!

Uma das diferenças que mais saltou à vista quando vim pela primeira vez à Irlanda foi a forma de cumprimento e a distância física entre pessoas. Habituada à cultura beijoqueira de Portugal e ao bater no braço do interlocutor para chamar à atenção, levei algum tempo até aprender a dizer "hello" sem mais e a conversar sem invadir o espaço pessoal do outro ("área em torno de uma pessoa, cuja violação por outra pessoa produz desconforto ou mal-estar", segundo Goldstein). O Bruce, por sua vez, teve de aguentar estoicamente 15 pares de beijos e outros tantos apertos de mão cada vez que ia a Portugal e tínhamos um jantar de família ou de amigos.

Quando estava já resignada ao higiénico cumprimento irlandês, eis que a situação muda. Passo a explicar: a Irlanda, até há pouco considerada um país de emigrantes, tornou-se destino de imigrantes, graças à sua properidade económica. Enquanto há uns anos era uma ilha de caras pálidas, em que quase toda a gente falava a mesma língua, agora está repleta de cores e sons de todo o mundo: polacos, brasileiros, chineses, espanhóis, franceses, sul-africanos, etc... Como consequência, já ninguém sabe como se cumprimentar! Assim que vemos um amigo ou conhecido vindo em nossa direcção, a nossa actividade cerebral aumenta exponencialmente, enquanto tentamos decidir se devemos simplesmente dizer "hello", se dar um abraço, um ou dois beijos,o que tem tendência a variar consoante a nacionalidade, faixa etária, grau de intimidade e o tempo que estivemos sem nos ver. É de se ficar exausto ainda antes de começar o diálogo!

P.S. - Acho que o Daniel nasceu com o "gene" do beijinho português. Ultimamente, quando lhe pego ao colo, chucha nas minhas bochechas como se fossem uma chupeta:-)

P.S.S. - A propósito de beijos e bebés, aqui está um clip bem cómico:

http://www.ffk-wilkinson.com

Saturday, October 13, 2007

Natal arrepiante

Estamos em meados de Outubro e as lojas estão cheias de teias de aranha, esqueletos nas paredes e bruxas nas vitrines, dado o Halloween já estar próximo. Confesso que não sinto grande interesse por esta festividade (o nosso Carnaval é bem mais simpático, colorido e diversificado), mas tem uma vantagem: é a única altura do ano em que consigo comprar abóbora para pôr na sopa!

No entanto, qual não foi o meu espanto quando encontrei no supermercado fantasmas esfarrapados e pálidos vampiros lado a lado com "Pais Natal" barrigudos e anjinhos ternurentos. Será que mais ninguém repara no ridículo, no absurdo do situação? Uma coisa de cada vez! O Natal ainda vai longe e já se começa a infiltrar tanto nas nossas vidas, que quando Dezembro chegar, estaremos indiferentes ou fartos das decorações...

Tenho pena que hoje em dia haja a tendência para apressar tudo - acabamos por viver antecipadamente o futuro e deixamos o presente para trás.

Thursday, October 11, 2007

Verão azul...


Aqui fica está foto só para não esquecer o Verão, agora que o frio bate à porta.

Wednesday, October 10, 2007

De volta

Desculpem mais uma vez o meu silêncio prolongado. Passei um mês em Portugal a matar saudades e, desde que regressei, o Daniel está "mar de mimo" (poço era pouco para descrever o comportamento dos últimos dias). Agora que já está a voltar lentamente à rotina, vou tendo uns minutinhos para olhar para o lado.

As férias foram óptimas, no entanto, tirando a primeira semana que passámos com os meus pais em Monte Gordo, não parámos um minuto. Foi uma autêntica "volta a Portugal com um bebé", digna de camisola amarela: Algarve, Lisboa, Castelo Branco, Alcains, Coimbra... Com quatro meses, o Daniel já "pode dizer" que andou de avião, alfa pendular, metro e autocarro. Nada mau! Foi na praia que deu a sua primeira gargalhada ao olhar para o moinho de vento comprado pelos avós e foi com os treze primos que aprendeu a ser mais sociável. No entanto ainda mantém o seu carácter essencialmente reservado e circunspecto. Sorrisos, só para quem merece:-)

Thursday, August 23, 2007

A porta do lado

Faz este mês um ano que nos mudámos para esta casa e só ontem - sim, só mesmo ontem - conhecemos os nossos vizinhos do lado.

Quando o Bruce e eu viemos viver para este bairro novinho em folha, estávamos casadinhos de fresco e o mundo girava à nossa volta... Concentrámo-nos em tornar a nossa casinha num verdadeiro lar e mal nos apercebemos de que havia gente a viver ao pé de nós. O facto de não ouvirmos qualquer ruído vindo da casa do lado ajudou a prolongar esta ilusão. Entretanto, entrámos no Outono (que cá chega mais depressa do que em Portugal...) e as tardes ficaram mais curtas. Quando regressávamos do trabalho, já era de noite e os vizinhos tinham as cortinas corridas (são tão pesadas que só deixam passar um fio ténue de luz). Culpámos então a escuridão e o frio (em vez da nossa preguiça e cobardia) e continuámos sem bater à porta do lado.

O tempo foi passando e o acanhamento foi crescendo de forma proporcional à minha barriga. Planeava fazer uns biscoitos para lhes oferecer, mas era sempre para amanhã... Quanto mais adiava o encontro, maior era a caixa de bolinhos que tencionava fazer, até que cheguei ao meu limite: teria que passar dias inteiros à volta do forno para compensar a demora.

Anteontem, reparei que ainda tínhamos bastante bolo de anos do Bruce, que tinha sobrado do dia anterior e tomei uma decisão. Cortei uma porção generosa e bati à porta dos nossos vizinhos. Não eram biscoitos, mas o John - descobri que era esse o seu nome - não pareceu ficar desapontado. No dia seguinte, quando regressei do meu passeio habitual, encontrei uma cartão de agradecimento no nosso correio e um convite para ir passar o serão com os nossos vizinhos. E foi apenas ontem que nos apresentámos devidamente (o Bruce e o Daniel foram comigo e a namorada do John, Marieta, estava também em casa). A conversa surgiu naturalmente e descobrimos que temos bastante em comum... Neighbours at last!

Thursday, August 16, 2007

Livros

Quem folhear os livros que estudei na faculdade, é capaz de ficar um pouco... escandalizado. Estão sublinhados a cores, com inúmeros comentários (a caneta!), com as pontas dobradas nas passagens mais relevantes. São poucos os espaços deixados em branco, o que torna difícil a releitura, mas a minha intenção era mesmo essa: espremer o conteúdo e ficar com uma versão concentrada que era mais fácil de abordar e de reter na memória.

Acho que o único exemplar que quase escapou ao meu graffiti livresco (com anotações minúsculas a lapiseira) foi Songs of Innocence and Experience de William Blake. Não foram os poemas que me impediram de atacar as suas páginas (afinal, as palavras gostam de companhia...), mas sim as suas iluminuras fantásticas.

Talvez por estar habituada a deixar a minha marca nos livros, gosto imenso de comprar obras em segunda mão. Além disso, são bem mais baratas e revertem geralmente para fundos humanitários (são as chamadas charity shops, bastante populares na Irlanda). De início, ficava tentada a adquirir livros que pareciam novinhos, mas vim a descobrir que isso se devia não ao cuidado do leitor, mas ao carácter desinteressante do exemplar em questão. Mudei de estratégia: agora procuro lombadas cheias de pregas e cantos dobrados... São vestígios de horas bem passadas. Um desses exemplos foi Gentlemen and Players de Joanne Harris: um livro de suspense que se devora de um só fôlego!

Tuesday, August 14, 2007

Baby shower

Na sexta-feira passada fui a um baby shower pela segunda vez (o primeiro foi o meu, para grande surpresa minha). É uma tradição muito popular em países como a África do Sul (onde nasceu a minha amiga Maria) e apesar da sua inevitável faceta comercial, não deixa de ser uma ocasião simpática e de trazer prendas muito úteis para o futuro bebé. Tanto quanto sei, tenta-se que seja uma festa surpresa que ocorre geralmente nas últimas semanas de gravidez e se organiza somente para o primeiro rebento. Depois deste "rito de iniciação", assume-se que a mulher já está suficientemente instruída e apetrechada para enfrentar a maternidade de novo, se assim o entender.

Cada amiga da mum-to-be traz um doce ou um salgado, presentes, dicas e passa-se o serão em alegre - e frequentemente barulhenta - cavaqueira. Foi no meu baby shower que descobri a existência dos práticos nappybags, que presenciei um debate aceso entre as partidárias das fraldas Huggies Vs Pampers e me senti mamã ainda antes de o Daniel ter nascido.

Apesar de se tratar de uma celebração entre mulheres, a verdade é que acaba por dar origem a um baby shower masculino improvisado: juntam-se maridos e bebés na casa do futuro papá que, inevitavelmente, acaba por ser bombardeado com as histórias de longas noites sem dormir, de birras e afins.Comparativamente, parece um pouco injusto, dirão vocês... Qual quê! Injusto é não poder dividir as dores de parto!

Wednesday, July 18, 2007

Marcas de amizade

Quando vim para a Irlanda pela primeira vez, não saía de casa sem levar um pequeno bloco de notas onde apontava palavras em Inglês que aprendia. Aos poucos apercebi-me de que, ao memorizar um novo vocábulo, acabava por associá-lo à pessoa que mo tinha ensinado (e frequentemente também ao contexto em que tinha surgido). O meu vocabulário inglês está povoado de memórias do meu ano de ERASMUS.

Também o meu português foi enriquecido pelos meus amigos: dou comigo a usar expressões que me fazem lembrar tanto deles! É quase uma forma de matar saudades...

Mas os meus amigos não estão só nas minhas palavras: estão na minha comida e nos meus gestos. A forma como cozinho, os ingredientes que uso e as receitas que sigo são o acumular de experiências que troquei com as minhas companheiras de casa e de jantares oferecidos por quem me quer bem. Cada receita aprendida tomou o nome da pessoa que me ensinou: "Lasanha de Vegetais à Ritinha", "Sopa de cenoura da Connie", "Paté da Paula", "Batatas a murro da Idalina", "Beringelas à moda da Susy", "Mousse de laranja da Maria do Rosário"... E são bem mais saborosas que os pratos de qualquer revista de culinária.

Monday, July 16, 2007

Postais

Na Irlanda há uma forte tradição de envio de postais que nem mesmo a internet parece ter feito esmorecer. Postais de aniversário, de noivado, de casamento, de Natal, de Páscoa, mas também outros para celebrar o nascimento de um bebé, a reforma, a mudança de emprego ou de casa, a obtenção da carta de condução, cartões de agradecimento ou desejando as melhoras... A lista parece infindável. E é de facto simpático ainda receber correio que não seja publicidade ou contas para pagar.

Mas sabe a pouco. Isto porque, segundo a mentalidade irlandesa, basta assinar ou, quando muito, escrever uma frase para que o postal fique "completo". Não se gastam palavras, nem tempo, e o remetente fica com a noção de missão cumprida. Apesar de estar agradecida, sinto-me defraudada como se um amigo que há muito não via tocasse à minha porta para dizer olá e depois, simplesmente, desse meia volta e fosse embora sem mais. Decididamente, continuo a preferir postais à portuguesa... Mais escassos, é certo, mas transbordantes de palavras.

P.S. - Por cá, também é frequente os postais de aniversário trazerem o número de anos estampado na capa. Há tempos entrei numa loja que tinha vários para celebrar os 100 anos! Espero um dia vir a receber um desses...

Thursday, July 05, 2007

Gostos não se discutem...

A minha família, apesar de não ser tão dotada como a célebre Von Trapp, não deixa de ter um certo carisma musical (quase todos cantamos afinados e/ou tocamos um instumento). Tive a sorte de começar a estudar no conservatório quando ainda era bastante pequena e a música sempre me acompanhou desde então.

Levei um ou dois anos a decidir-me por um instrumento. O mais conveniente era escolher um que já tivéssemos lá em casa: acordeão, violino, flauta ou harmónica. Acabei por se puxada para as cordas e em pouco tempo estava a serrar aos ouvidos da minha professora, pais, irmãos e vizinhos (aqui fica registado o meu obrigada a todos aqueles que, pela sua paciência, não me impediram de continuar a tocar...).

O violino é, provavelmente, dos instrumentos mais ingratos durante os primeiros anos de aprendizagem. Leva muito tempo para que os dedos e o ouvido encontrem a afinação correcta e para que a mão direita descubra a tensão certa do arco sobre as cordas . A minha professora tinha um método curioso para desencorajar a desafinação: por cada nota desafinada, ficávamos a dever-lhe um pastel de nata. Se bem que nunca cheguei a redimir a minha dívida (g)astronómica , cada vez que comia um pastel de nata ficava com peso de consciência por não ter estudado mais...



Muitos anos depois, vim a descobrir que saber tocar violino, para além da satisfação pessoal e das muitas oportunidades que me proporcionou, é a cura para o choro desalmado do Daniel. Sim, é verdade, basta começar a tocar e ele automaticamente cala-se, relaxa e, geralmente, pouco depois fica a dormir (hoje, só de ver o violino, ficou logo mais calmo). O pai já tentou o mesmo truque com o piano - em vão... O Daniel parece ser bem mais decidido do que a mãe dele em termos musicais: ainda só cá anda há pouco mais de um mês, e já quer ser violinista:-) Se não acreditam, é só olhar para a prova evidente desta fotografia: já está em posição para tocar, só falta o instrumento...

Tuesday, July 03, 2007

Fome de sol

Tinham dito que este Verão ia ser dos mais quentes dos últimos anos: eu acreditei. Fiquei feliz só com a expectativa de poder aproveitar a licença de parto para dar longos passeios com o Daniel. Abril chegou cheio de sol e dissipou quaisquer dúvidas que pudesse ainda ter: se a Primavera era assim, estava garantido o Verão.

Não, não estava.

Maio e Junho foram os mais cinzentos que já vi e Julho continua a afogar as minhas esperanças. Nem posso consolar-me a pensar no céu azul de Portugal, porque parece que também aí o clima anda do avesso. Como se já não bastassem os políticos, agora o tempo também não cumpre promessas!

Quem me vende uns minutos de sol?

Friday, June 29, 2007

I feel good

Depois de 7 meses a usar calças de grávida, regressei aos meus velhos jeans. Yupi! Foi tão frustrante sair do hospital a usar as mesmas calças da gravidez: foi-se o bebé, ficou a barriga, e que barriga! Um autêntico colchão de água... É claro que neste último mês estive mais do que ocupada a ser mãe para perder muito tempo a pensar nisso, mas a verdade é que não deixava de ser um golpe para a minha auto-estima ter de encarar todas as manhãs um umbigo a nadar num mar de gelatina. Numa altura em que ainda me estou a adaptar às transformações radicais da minha vida (entre 2006 e 2007, mudei de país, de profissão, casei-me e já sou mãe), sabe bem ao menos voltar a ter a barriga no lugar.

Thursday, June 28, 2007

Enquanto o Daniel dorme...

Ou melhor, enquanto ele não acorda, tento desenferrujar os dedos e as palavras. Ontem recebi o primeiro sorriso "voluntário" do Daniel - até então, ele só sorria durante o sono. Não sei se todos os bebés de 1 mês serão assim, mas os primeiros minutos, logo a seguir a adormecer, passa-os a dar "gargalhadas mudas" - o que é irá dentro daquela cabecinha de cabelo miúdo? Porém, quando está desperto, fica sério, sério, como se sentisse já a responsabilidade de crescer. Com o tempo, espero que descubra quão importante é saber sorrir acordado, mesmo quando se tem pela frente desafios tão grandes como aprender a falar e a andar.

Tuesday, June 19, 2007

Recomeço

É difícil voltar a escrever, depois de tantos meses de silêncio. Parece que depois de me casar só faltava acrescentar "e viveram felizes para sempre"... Mas a vida continua. Não parei de escrever por falta de novidades: nestes meses mudei de emprego, participei em outro musical, engravidei e já sou mamã desde 24 de Maio. Então o que me fez calar? O computador! Depois de passar 8h por dia a trabalhar em frente ao monitor, extremamente ocupada, quando chegava a casa já não tinha paciência para ligar o bicho de estimação do meu marido para continuar o blog.

Agora que já estou em licença de parto há mais de um mês, e passo 24h a cuidar do Daniel, tenho necessidade de voltar a falar escrevendo, e de receber respostas que vão para além de um "aaaaaaaa" e de um "buá" (ainda que os "aaaaaaaaaaa"s do Daniel sejam muito expressivos, e os "buá"s muito... absorventes).

Pronto, o blog está oficialmente "reaberto". Agora já só falta contar com a colaboração do Daniel para que mamã possa ter um tempinho para escrever...