Saturday, July 12, 2008

Miscelânea

A preguiça instalou-se se novo e nunca mais tive paciência para escrever. Verdade seja dita, também não tenho tido muito tempo (ou não o tenho sabido gerir bem). Imaginem que o Daniel já fez um aninho a 24 de Maio e teve uma festa de arromba para miúdos e graúdos (fotos disponíveis no sítio do costume)! Entretanto fomos a mais um casamento: a noiva estava "branca e radiante", o noivo vestido à escocesa e durante a celebração deliciei-me a ouvir uma harpista com voz parecida com a da Loreena Mckennitt.

O pobre do Daniel já foi a 4 casamentos desde que nasceu, e vai a mais dois em breve...Por este andar quando comecar a falar e lhe perguntarem o que quer ser quando fôr grande, ainda é capaz de responder: mestre de cerimónias ou "wedding planner".

De resto, optámos por não comprar casa para já. O mercado imobiliário, que tinha ajudado muito à crescimento económico da Irlanda, está a desmoronar-se aos poucos: os preços já começaram a descer e a tendência deverá manter-se durante os próximos anos. A recessão bateu à porta dos irlandeses quando muito poucos esperavam a sua chegada. Nos últimos meses, várias empresas iniciaram despedimentos em massa - incluindo a minha. A bomba caiu na segunda-feira, 30 de Junho. Reunião geral com um final infeliz: 1/3 dos empregados vão perder os seus postos depois de 31 de Outubro. O meu departamnento vai fechar (vão concentrar o Serviço de Apoio Técnico nos EUA). E eu? Não sei como, ainda não perdi o meu emprego, mas também ainda não tenho uma ideia clara de quais serão as minhas funções a partir de Novembro. É ir andando e vendo...

Friday, March 21, 2008

A gatinhar se vai ao longe


É verdade, o Daniel começou a gatinhar! Depois de muitas tentativas frustradas de cabeça para baixo e rabinho para o ar, o nosso filhote decidiu mudar de estratégia. Agora, gatinha "à comando", arrastando-se pela casa como se estivesse a planear um assalto aos ursinhos de peluche.
Entretanto, mudar a fralda revelou-se tarefa quase impossível: as pernas não param quietas, enquanto o Bruce e eu tentamos persuadir o nosso pequeno rambo a não sair do lugar: em vão!
Quanto à linguagem, apesar de o vocabulário continuar a ser de uma só palavra ("mamã", pois claro), o Daniel já é bastante fluente em gestos: diz adeus, bate palminhas, faz "a pitinha põe o ovo", dança com as mãozinhas...E o melhor de tudo é reagir igualmente aos nossos pedidos em ambas as línguas. Sim, eu sei, sou uma mãe babada. Mas digam lá se eu não tenho razão para o ser?

Monday, March 03, 2008

Perú na Eurovisão


Não, não me refiro ao país, refiro-me ao Dustin, o único perú da Irlanda que ao longo de quase 18 anos tem escapado a ser cozinhado para almoço de Natal. O seu début televisivo foi num programa infantil, mas ao longo do tempo tem cativado cada vez mais os adultos. Prova disso é o facto de ter ganho a eliminatória para o festival da Eurovisão. Preparem-se para o nunca visto! O início da música "Irlande douze pointe" é absolutamente atroz, mas acabo por ficar rendida.

A música, a letra, os bailarinos são uma paródia à Eurovisão e, mesmo sem ter ainda ouvido os outros concorrentes, duvido que alguém supere a originalidade irlandesa (sim, eu sei, talvez um pouco exagerada, mas absolutamente fora do vulgar).

A verdade é que a Eurovisão já não é o que era, e estamos todos (?) fartos de ouvir sempre o mesmo. Não foi sempre assim, pois não? Ainda hoje passei uma hora a navegar pelo "youtube" e a rever as músicas de 1993, o melhor ano de que me recordo. Chamem-lhe nostalgia se quiserem, mas a verdade é que este festival esteve recheado de pérolas: desde a fantástica "Eloise" (Suécia, merecias ter sido a vencedora!), à caixinha de música da Croácia, ao desabafo feminista da Espanha, à música de discoteca holandesa, ao ritmo electrificante do Reino Unido, a lista continua. Até a nossa Anabela teve uma actuação bem simpática. E adivinhem quem ganhou: a Irlanda! Lembro-me que fiquei fula quando soube o resultado. "In your eyes" até nem era má, simplesmente não era suficientemente boa. Na altura parecia moda: ano sim, ano sim, a terra das ovelhas encharcadas arrecadava os louros. Até que no ano passado, foi o choque total: "Irlande nil points". Agora, só mesmo com o Dustin é que vão lá!

Monday, February 25, 2008

¿Estás lista?

Há já muito tempo que uso listas para planear as minhas tarefas quotidianas e as minhas compras. Enquanto estudante, e especialmente em período de exames, ficava satisfeita se ao fim do dia tinha mais "certos" do que cruzes na minha lista, parecia-me uma forma bastante objectiva de auto-avaliação. Descobri depois que este hábito dava bons resultados também no meu trabalho e, desde então, sou uma funcionária muito mais "produtiva" (excepto quando escrevo entradas para blogues, claro está).

Quando já me comecava a questionar se o meu comportamento era obsessivo, falei com um casal nosso amigo que tem 4 filhos e é um exemplo de organização. Cada vez que vão a algum lado, usam uma lista com os objectos a levar, distribuídos por cada divisão da casa! Uf, afinal nao sou a única com estas manias!

Tuesday, February 12, 2008

"Tupperwarezinho"

O Bruce acha piada aos diminutivos em Português e talvez por isso tenha engraçado com a palavra "tupperwarezinho". De segunda a sexta-feira, lá vamos os dois para o trabalho acompanhados dos nossos fiéis recipientes de plástico. A moda começou no meu primeiro emprego na Irlanda: a empresa ficava num local relativamente isolado e, se não trouxesse comida de casa, ficava esganada o dia todo (e eu, ainda por cima, tenho a mania de petiscar de duas em duas horas). Assim, habituei-me a vir munida de casa com um bom almoço, barrinhas de cereais, iogurte, fruta...

Quando mudei de trabalho, o hábito já estava bem enraizado e, apesar de haver cantina ( que não é nenhuma pechincha), não abdiquei das minhas refeições caseiras. A princípio parecia ser a única a aventurar-se a trazer comida de casa para a cantina (havia mais adeptos do tupperware, mas esses comiam no seu canto, escondidos atrás do computador). Aos poucos, alguns colegas perderam a vergonha e passaram a trazer os plásticos coloridos para a mesa e agora já é prática comum (especialmente porque está toda a gente com medo da recessão e é melhor poupar uns euros).

Monday, January 28, 2008

"Is binn béal ina thost"

Tenho uma grande paixão por línguas, sejam elas vivas, mortas ou moribundas, como é o caso do irlandês. Ao longo dos anos, tive relativa facilidade em aprender a língua inglesa e cresci com espanhol ali ao lado (sejamos francos, não exige grande esforço).O francês não foi particularmente difícil de assimilar (há muitas palavras com a mesma raiz que o português o que ajuda) e depois veio o latim... Houve quem pensasse que era um desperdício optar por uma língua com certidão de óbito em vez de escolher Geografia. Confesso que eu própria tive as minhas dúvidas, que logo se dissiparam com as aulas. Ao longo dos anos, o fascínio ia crescendo à medida que os textos se alongavam.

Quando entrei para o Conservatório em Lisboa, tive também de parlare un po' d'italiano, que veio à boleia do latim. Até há pouco achava que aprender línguas era muito fácil. E foi então que dei de caras com o irlandês, uma língua tão bizarra que é capaz de pôr o chinês num chinelo.

Em primeiro lugar, a ordem das palavras parece dar mais importância às acções do que aos agentes (verbo/sujeito/objecto). Em vez do costumado "O João comeu a maçã.", começa-se por "comeu" e ficamos todos ansiosos por saber se foi o João, a Maria ou o Zé. A língua irlandesa é um autêntico policial falado, com o ouvinte em permanente suspense. Depois, consoantes e vogais não se dão lá muito bem e não gostam de se misturar. Resultado, muitas palavras têm uma ortografia bastante complexa. Vejam só o seguinte exemplo tirado da Wikipédia em irlandês: "De bharr go bhfuil sí an-oscailte tarlaíonn loitiméireacht (creachadóireacht), míchruinneas, neamhchomhsheasamacht, caighdeán measctha agus tuairimí gan bunús." (http://ga.wikipedia.org) Não me perguntem o que significa... Finalmente, o que torna esta língua particularmente frustrante de aprender - pelo menos para mim - é o facto de eu não conseguir "adivinhar" o que significam as palavras. Todas as outras línguas que estudei, ou derivaram do latim, ou têm muitos vocábulos de raiz latina, o que não se passa com o irlandês. Acho que me vou contentar pela frase "Is binn béal ina thost" ("o silêncio é de ouro")...

Friday, January 18, 2008

Labor, -oris


Estranhamente, estava mais nervosa no dia em que regressei ao trabalho do que quando entrei para esta empresa. Apareci com o meu caderninho de notas (não me fio da minha memória, por isso apontei tudo antes de ir de licença) e voilà: em pouco tempo o meu cérebro estava de novo operacional! Melhor ainda, quando telefonei à ama à hora do almoço para saber como se estava a portar o Daniel, pude ouvi-lo a rir-se às gargalhadas...
Apesar de estar bem mais cansada (adeus ó sestas...), estou contente. Saborei os sete meses que passei com o Daniel, mas senti a falta da companhia de adultos. Ele, por sua vez, precisava de estar com outras crianças: desde que começou a ir para a ama e a brincar com os filhos dela está muito mais risonho e extrovertido.