Tuesday, October 30, 2007

Um vaivém especial

Tenho poucas memórias de infância, mas sei que fui feliz. Lembro-me do carinho e paciência que todos tinham para comigo por ser a filha caçula. Lembro-me dos deliciosos bolos e sobremesas de família que agora estou a tentar "recriar" pela minha própria mão. E, finalmente, lembro-me de a casa estar sempre cheia e a mesa sempre posta. Não só éramos uma família numerosa (avó, pais e seis filhos), como tínhamos a porta e o coração sempre abertos. Tios, primos, vizinhos e amigos estavam constantemente a entrar e a sair, entre conversas que se alongavam pelo serão fora. Silêncio, só mesmo durante a noite (e isto se conseguíssemos alhear-nos de um ou outro ressonar...).

Vinte anos e catorze netos depois, os meus pais já se mudaram para um apartamento maior , mas o vaivém continua a aumentar exponencialmente. Por este andar, vão ter de comprar um prédio inteiro... O Bruce, que só tem uma irmã e estava habituado à paz e sossego de Sligo, continua a ficar surpreendido cada vez que vamos a Castelo Branco: "Isto é uma autêntica estação de comboios, com gente a chegar e a partir!".

Wednesday, October 24, 2007

Como imaginar um sorriso

É certo e sabido que são frequentemente as ideias mais simples que chegam mais longe. Em 1993, Dave and Jill Cooke, do País de Gales, iniciaram um programa de envio de presentes e mantimentos para orfanatos na Roménia. Nesse mesmo ano, uma organização cristã, "Samaritan's Purse", apadrinhou o projecto, servindo-se de caixas de sapatos para entregar prendas a crianças na Bósnia. E, como por magia, essas caixas de sapatos, decoradas com papel de embrulho e repletas de bonecos, material escolar e produtos de higiene, tornaram-se autênticos baús de pequenos tesouros. Só no ano passado, sete milhões e meio de crianças necessitadas descobriram o que é receber um presente pelo Natal.
( http://www.breakingnews.ie/ireland/mhmhmheyojmh )

Tenho uma amiga que alguns anos atrás fez trabalho de voluntariado num orfanato na Rússia e, apesar de ter sido já em pleno Verão, os meninos continuavam a falar dos brinquedos que tinham recebido seis meses antes...

Sei que ainda há pouco reclamei por as lojas já transpirarem de decorações natalícias, mas a verdade é que uma operação desta envergadura precisa de se iniciar com bastante tempo de antecedência. Ontem, senti um gozo especial ao preparar uma caixa com prendas para um rapazinho que nunca chegarei a conhecer. Mas fico contente só de imaginar o seu sorriso...

Monday, October 22, 2007

Era uma vez...

Um dos meus planos para a licença de maternidade era escrever histórias para o Daniel. A verdade é que já estou em contagem decrescente para o regresso ao trabalho (falta menos de 1 mês, snif, snif) e ainda não escrevi um parágrafo. Decidi então começar a ler The Complete Fairy Tales dos irmãos Grimm em busca de inspiração.

Confesso que estou a desfrutar imenso desta viagem pela infância, mas fiquei simultaneamente surpreendida por só agora me dar conta da crueldade de alguns destes contos. Apesar de ainda só ter lido 20 (a obra completa inclui 279), encontrei
pais que abandonam os filhos ("Hansel and Gretel", "Rapunzel") ou que decidem assassiná-los ("The twelve brothers", "Faithful Johannes"). São autênticas histórias de terror, e seria de esperar que as criancinhas acordassem a meio da noite com pesadelos. E, no entanto, elas parecem ficar em paz porque, no fim, "os bons" ficam bem. Estranho, não é?

Thursday, October 18, 2007

Chuack!

Uma das diferenças que mais saltou à vista quando vim pela primeira vez à Irlanda foi a forma de cumprimento e a distância física entre pessoas. Habituada à cultura beijoqueira de Portugal e ao bater no braço do interlocutor para chamar à atenção, levei algum tempo até aprender a dizer "hello" sem mais e a conversar sem invadir o espaço pessoal do outro ("área em torno de uma pessoa, cuja violação por outra pessoa produz desconforto ou mal-estar", segundo Goldstein). O Bruce, por sua vez, teve de aguentar estoicamente 15 pares de beijos e outros tantos apertos de mão cada vez que ia a Portugal e tínhamos um jantar de família ou de amigos.

Quando estava já resignada ao higiénico cumprimento irlandês, eis que a situação muda. Passo a explicar: a Irlanda, até há pouco considerada um país de emigrantes, tornou-se destino de imigrantes, graças à sua properidade económica. Enquanto há uns anos era uma ilha de caras pálidas, em que quase toda a gente falava a mesma língua, agora está repleta de cores e sons de todo o mundo: polacos, brasileiros, chineses, espanhóis, franceses, sul-africanos, etc... Como consequência, já ninguém sabe como se cumprimentar! Assim que vemos um amigo ou conhecido vindo em nossa direcção, a nossa actividade cerebral aumenta exponencialmente, enquanto tentamos decidir se devemos simplesmente dizer "hello", se dar um abraço, um ou dois beijos,o que tem tendência a variar consoante a nacionalidade, faixa etária, grau de intimidade e o tempo que estivemos sem nos ver. É de se ficar exausto ainda antes de começar o diálogo!

P.S. - Acho que o Daniel nasceu com o "gene" do beijinho português. Ultimamente, quando lhe pego ao colo, chucha nas minhas bochechas como se fossem uma chupeta:-)

P.S.S. - A propósito de beijos e bebés, aqui está um clip bem cómico:

http://www.ffk-wilkinson.com

Saturday, October 13, 2007

Natal arrepiante

Estamos em meados de Outubro e as lojas estão cheias de teias de aranha, esqueletos nas paredes e bruxas nas vitrines, dado o Halloween já estar próximo. Confesso que não sinto grande interesse por esta festividade (o nosso Carnaval é bem mais simpático, colorido e diversificado), mas tem uma vantagem: é a única altura do ano em que consigo comprar abóbora para pôr na sopa!

No entanto, qual não foi o meu espanto quando encontrei no supermercado fantasmas esfarrapados e pálidos vampiros lado a lado com "Pais Natal" barrigudos e anjinhos ternurentos. Será que mais ninguém repara no ridículo, no absurdo do situação? Uma coisa de cada vez! O Natal ainda vai longe e já se começa a infiltrar tanto nas nossas vidas, que quando Dezembro chegar, estaremos indiferentes ou fartos das decorações...

Tenho pena que hoje em dia haja a tendência para apressar tudo - acabamos por viver antecipadamente o futuro e deixamos o presente para trás.

Thursday, October 11, 2007

Verão azul...


Aqui fica está foto só para não esquecer o Verão, agora que o frio bate à porta.

Wednesday, October 10, 2007

De volta

Desculpem mais uma vez o meu silêncio prolongado. Passei um mês em Portugal a matar saudades e, desde que regressei, o Daniel está "mar de mimo" (poço era pouco para descrever o comportamento dos últimos dias). Agora que já está a voltar lentamente à rotina, vou tendo uns minutinhos para olhar para o lado.

As férias foram óptimas, no entanto, tirando a primeira semana que passámos com os meus pais em Monte Gordo, não parámos um minuto. Foi uma autêntica "volta a Portugal com um bebé", digna de camisola amarela: Algarve, Lisboa, Castelo Branco, Alcains, Coimbra... Com quatro meses, o Daniel já "pode dizer" que andou de avião, alfa pendular, metro e autocarro. Nada mau! Foi na praia que deu a sua primeira gargalhada ao olhar para o moinho de vento comprado pelos avós e foi com os treze primos que aprendeu a ser mais sociável. No entanto ainda mantém o seu carácter essencialmente reservado e circunspecto. Sorrisos, só para quem merece:-)