Wednesday, July 18, 2007

Marcas de amizade

Quando vim para a Irlanda pela primeira vez, não saía de casa sem levar um pequeno bloco de notas onde apontava palavras em Inglês que aprendia. Aos poucos apercebi-me de que, ao memorizar um novo vocábulo, acabava por associá-lo à pessoa que mo tinha ensinado (e frequentemente também ao contexto em que tinha surgido). O meu vocabulário inglês está povoado de memórias do meu ano de ERASMUS.

Também o meu português foi enriquecido pelos meus amigos: dou comigo a usar expressões que me fazem lembrar tanto deles! É quase uma forma de matar saudades...

Mas os meus amigos não estão só nas minhas palavras: estão na minha comida e nos meus gestos. A forma como cozinho, os ingredientes que uso e as receitas que sigo são o acumular de experiências que troquei com as minhas companheiras de casa e de jantares oferecidos por quem me quer bem. Cada receita aprendida tomou o nome da pessoa que me ensinou: "Lasanha de Vegetais à Ritinha", "Sopa de cenoura da Connie", "Paté da Paula", "Batatas a murro da Idalina", "Beringelas à moda da Susy", "Mousse de laranja da Maria do Rosário"... E são bem mais saborosas que os pratos de qualquer revista de culinária.

Monday, July 16, 2007

Postais

Na Irlanda há uma forte tradição de envio de postais que nem mesmo a internet parece ter feito esmorecer. Postais de aniversário, de noivado, de casamento, de Natal, de Páscoa, mas também outros para celebrar o nascimento de um bebé, a reforma, a mudança de emprego ou de casa, a obtenção da carta de condução, cartões de agradecimento ou desejando as melhoras... A lista parece infindável. E é de facto simpático ainda receber correio que não seja publicidade ou contas para pagar.

Mas sabe a pouco. Isto porque, segundo a mentalidade irlandesa, basta assinar ou, quando muito, escrever uma frase para que o postal fique "completo". Não se gastam palavras, nem tempo, e o remetente fica com a noção de missão cumprida. Apesar de estar agradecida, sinto-me defraudada como se um amigo que há muito não via tocasse à minha porta para dizer olá e depois, simplesmente, desse meia volta e fosse embora sem mais. Decididamente, continuo a preferir postais à portuguesa... Mais escassos, é certo, mas transbordantes de palavras.

P.S. - Por cá, também é frequente os postais de aniversário trazerem o número de anos estampado na capa. Há tempos entrei numa loja que tinha vários para celebrar os 100 anos! Espero um dia vir a receber um desses...

Thursday, July 05, 2007

Gostos não se discutem...

A minha família, apesar de não ser tão dotada como a célebre Von Trapp, não deixa de ter um certo carisma musical (quase todos cantamos afinados e/ou tocamos um instumento). Tive a sorte de começar a estudar no conservatório quando ainda era bastante pequena e a música sempre me acompanhou desde então.

Levei um ou dois anos a decidir-me por um instrumento. O mais conveniente era escolher um que já tivéssemos lá em casa: acordeão, violino, flauta ou harmónica. Acabei por se puxada para as cordas e em pouco tempo estava a serrar aos ouvidos da minha professora, pais, irmãos e vizinhos (aqui fica registado o meu obrigada a todos aqueles que, pela sua paciência, não me impediram de continuar a tocar...).

O violino é, provavelmente, dos instrumentos mais ingratos durante os primeiros anos de aprendizagem. Leva muito tempo para que os dedos e o ouvido encontrem a afinação correcta e para que a mão direita descubra a tensão certa do arco sobre as cordas . A minha professora tinha um método curioso para desencorajar a desafinação: por cada nota desafinada, ficávamos a dever-lhe um pastel de nata. Se bem que nunca cheguei a redimir a minha dívida (g)astronómica , cada vez que comia um pastel de nata ficava com peso de consciência por não ter estudado mais...



Muitos anos depois, vim a descobrir que saber tocar violino, para além da satisfação pessoal e das muitas oportunidades que me proporcionou, é a cura para o choro desalmado do Daniel. Sim, é verdade, basta começar a tocar e ele automaticamente cala-se, relaxa e, geralmente, pouco depois fica a dormir (hoje, só de ver o violino, ficou logo mais calmo). O pai já tentou o mesmo truque com o piano - em vão... O Daniel parece ser bem mais decidido do que a mãe dele em termos musicais: ainda só cá anda há pouco mais de um mês, e já quer ser violinista:-) Se não acreditam, é só olhar para a prova evidente desta fotografia: já está em posição para tocar, só falta o instrumento...

Tuesday, July 03, 2007

Fome de sol

Tinham dito que este Verão ia ser dos mais quentes dos últimos anos: eu acreditei. Fiquei feliz só com a expectativa de poder aproveitar a licença de parto para dar longos passeios com o Daniel. Abril chegou cheio de sol e dissipou quaisquer dúvidas que pudesse ainda ter: se a Primavera era assim, estava garantido o Verão.

Não, não estava.

Maio e Junho foram os mais cinzentos que já vi e Julho continua a afogar as minhas esperanças. Nem posso consolar-me a pensar no céu azul de Portugal, porque parece que também aí o clima anda do avesso. Como se já não bastassem os políticos, agora o tempo também não cumpre promessas!

Quem me vende uns minutos de sol?